O “pedido de música no Fantástico” é uma brincadeira que os apresentadores do programa fazem com os atletas de futebol que marcam três ou mais gols em uma mesma partida. A música escolhida aparece ao fundo enquanto passam imagens do jogador na tela. A brincadeira é bastante conhecida pelos brasileiros que costumam usar o termo “pedir música no Fantástico” sempre que algo acontece por três vezes, como é o caso do estudante André Ataíde. Aliás, foi no próprio programa de televisão que o estudante de medicina carimbou as aparições após começar a ser investigado pela Polícia Federal por fraudar provas de vestibular.
Em um vídeo divulgado pelo programa da TV Globo no último domingo, 20, André aparece dando instruções para um candidato de vestibular de medicina para que ele consiga fraudar a prova da Facimpa sem que o fiscal perceba que ele estava colando. Ele se especializou em burlar o controle de exames online, já que essas provas costumam ser feitas com microfone e câmera do computador ligados, para que o fiscal observe se o candidato não está colando. “Teu olhar tem que ficar focado para tela. Se tu olhar para o lado aqui como eu tô olhando, o sensor, o programa vai indicar para o fiscal e ele vai ficar enchendo teu saco”, diz André.
Segundo a PF, o rapaz de apenas 23 anos comandava um grande esquema e contava com um time de 32 pessoas que faziam as provas no lugar dos vestibulandos ou que transmitiam as respostas para os candidatos em provas on-line. Trinta candidatos contrataram os serviços de André, em quatro estados brasileiros, para 107 provas de vestibular em diferentes instituições.
“Ele brincava com o sistema. Fazia diversos testes e orientava os candidatos na hora da prova. Ele chegou a realizar nove provas em um único dia, simultaneamente, para nove candidatos. Ele tinha colaboradores que auxiliavam na resolução das provas”, explica o delegado da Polícia Federal Ezequias Martins.
Na última quarta-feira, 16, a PF cumpriu 27 mandados de busca em casas de candidatos suspeitos ou cúmplices no esquema de fraudes, sendo um dos alunos Lucas Cunha Sá, sobrinho do prefeito eleito de Marabá, Toni Cunha Sá. O rapaz seria um dos beneficiários diretos do esquema de facilitação do ingresso no curso superior operacionalizado por André Ataíde.
A Reportagem do Fantástico foi até a casa de André Rodrigues Ataíde e quem atendeu foi o pai dele: “Vocês se aventurem daqui pra outro rumo. Para outro rumo, nós estamos falando sério”.
De acordo com o delegado Ezequias Martins, as faculdades estão sendo tratadas como vítimas na investigação, apesar de existir, sim, a vulnerabilidade do sistema.
A Faculdade de Ciências Médicas do Pará (Facimpa) disse que irá adotar todas as medidas administrativas necessárias e cabíveis, de acordo com a conclusão das investigações.
Para o restante dos alunos, que entraram na faculdade de forma idônea, fica a sensação de injustiça. “Será que para se tornar médico é preciso só ter dinheiro? Que tipo de médicos serão esses?” questionaram.
ENTENDA O CASO
Vale relembrar que em fevereiro deste ano, André Ataíde foi preso por ter feito, presencialmente, pelo menos, duas provas do Enem no lugar de estudantes que pagaram pelo “serviço”. A fraude foi comprovada quando a assinatura de André e a letra da redação foram comparadas com a assinatura e a letra dos estudantes aprovados. Um deles já estava cursando medicina na Universidade Estadual do Pará (UEPA), onde André também estudava.
André hoje ele é réu na Justiça Federal e responde em liberdade, podendo ainda se tornar réu em outro processo na Justiça Estadual do Pará pelos mesmos crimes.
No mês de abril, André cancelou a matrícula na UEPA, onde já estava em andamento um processo de expulsão. Porém, ele continuou a cursar medicina em Marabá na Faculdade de Ciências Médicas do Pará, a Facimpa, onde se tornou colega de sala de aula de vários clientes. Segundo a polícia, 23 candidatos, que pagaram André e conseguiram a vaga sem terem feito a prova, estudam com ele na mesma turma.
VERSÃO DA FACIMPA
A Reportagem do CORREIO pediu posicionamento da Facimpa após a divulgação da reportagem do Fantástico. A faculdade enviou a seguinte nota: “A Faculdade de Ciências Médicas do Pará comunica que acompanha com a devida atenção os desdobramentos da operação “Passe Livre”, conduzida pela Polícia Federal, e adotará todas as medidas administrativas necessárias e cabíveis, de acordo com a conclusão das investigações.
A instituição reafirma seu compromisso com a ética e a transparência, colaborando integralmente com as autoridades competentes para garantir o cumprimento das normas legais e regulatórias vigentes.
A instituição reforça seu empenho em garantir a integridade e transparência nos processos e reitera seu comprometimento inabalável com a excelência acadêmica, a ética e a transparência, princípios que guiam todas as suas ações”.
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